Popularizado em todo o mundo através das canções de Cesária Évora, o Carnaval do Mindelo está fortemente enraizado na tradição e, embora atraia muitas pessoas, felizmente ainda não se transformou numa atracção turística: os Mindelenses fazem o Carnaval primeiro para eles, depois para os outros.

Durante quase um mês, a emoção aumenta aos poucos, com os ensaios dos grupos participantes do grande desfile: na Terça-Feira de Carnaval, a cidade inteira vive no ritmo do evento, as ruas ficam cheias de curiosos, todos os bairros e todas as classes sociais se misturam ao longo dos cortejos.

O carnaval em Cabo Verde tem a sua origem na festa portuguesa do Entrudo, que foi introduzida no arquipélago (e no Brasil) no início do século XVIII, e essa festa tinha uma filiação distante com as festas da antiguidade.

A poucos dias do início da Quaresma e dos seus quarenta dias de penitência (sem festa, sem barulho, sem carne), o povo libertou-se e caiu em todos os excessos, caricaturando os senhores do poder, parodiando procissões religiosas, organizando batalhas, algumas ingênuas com frutas podres ou farinha, e outras às vezes bem mais violentos.

Em Cabo Verde, o Mindelo tem vindo a assumir progressivamente a organização do maior cortejo, que atrai foliões de todas as outras ilhas (outros carnavais, bem mais modestos, ainda se celebram em São Nicolau, Santiago e Santo Antão), a sua notoriedade está mesmo a começar para se tornar internacional, dado o número cada vez maior de jornalistas presentes para filmar o evento.

No final do século XIX e início do século XX, o Mindelo conheceu uma enorme expansão através da venda do carvão, tornando muito rapidamente São Vicente na ilha mais rica e mai produtiva da pequena colónia portuguesa: os grandes e pequenos comerciantes tinham meios para divertir-se e organizar festas sublimes.


« Um dia fui no Carnaval, gostei muito porque os grupos são muito bonitos. Meu grupo preferido é o Maravilhas do Espaço, porque é o mais bonito. Por isso eles venceram. Todos os anos há uma festa de carnaval na escola. »
Joana, 8 anos

Procurando fugir a destinos mais difíceis, os camponeses das ilhas vizinhas (São Nicolau e Santo Antão) vinham ao cais do Porto Grande (porto do Mindelo) vender a sua força de trabalho, trazendo consigo as tradições das suas ilhas. Por outro lado, Mindelo foi construído sob influência estrangeira: os depósitos de carvão eram controlados pelos britânicos - que também detinham a maior parte das terras - enquanto os cargueiros vinham da Europa (na maioria das vezes do Norte) para chegar à América do Sul. Mindelo já foi descrito como uma Babilônia moderna, uma cidade portuária multicultural, multilíngue e multicolorida.

O Carnaval do Mindelo sofrerá assim importantes influências sucessivas: filho legítimo do Entrudo, tornar-se-á mais britânico no início do século XIX (com a organização de grandes bailes nos salões dos clubes desportivos e da alta sociedade), depois voltará os olhos para o Brasil (como uma espécie de irmão mais velho), enquanto as centenas de barcos ancorados todos os anos no porto inspirarão novos figurinos, temas e personagens.

Hoje, o Carnaval do Mindelo mantém-se construído no mesmo modelo: ensaios de grupos nos bairros, definição de temas (em 2006, um grupo homenageou a Internet e as novas tecnologias, enquanto a crise financeira foi o tema principal da edição de 2009 ), concepção de carros alegóricos no maior sigilo, festas e bailes visando o financiamento dos grupos, desfile dos grupos perante um júri, entrega de troféus.

No final do Carnaval, o "rei Momo" é queimado e a "festa das cinzas" é celebrada em casa com pratos típicos.